Um pouco incentivada pelo meu pai a dedicar-me a um género de leitura diferente daquele a que estou habituada – os meus eternos clássicos! – embrenhei-me numa grande pesquisa de autores (quando digo grande, significa que arranjei títulos suficientes para me preencherem nos próximos dez anos!). Estava com dúvidas sobre se havia de começar por ler filósofos ou antes temas da atualidade, ou ainda, biografias das grandes personalidades (das melhores e das piores!). Optei pela segunda hipótese.
Este livro, de autoria de Mário Soares – uma personalidade que tenho em grande apreço e consideração – fala-nos do começo da crise económica e financeira que vivemos atualmente e da histórica eleição para o Presidente dos EUA em 2008 (da qual saiu vencedor Barack Obama) e reúne uma série de crónicas do autor publicadas em diversos jornais num período compreendido entre Dezembro de 2007 e Fevereiro de 2009.
Embora siga em linha o pensamento de Mário Soares, penso que mesmo discordando de algumas posições ou opções ideológicas, este livro esclarece o porquê e a origem de tão malfadada crise que se prolonga até aos dias de hoje e parece não ter prazo de validade; além disso, coloca muitos dedos nas feridas e aponta soluções.
Todavia, enquanto lia o livro, não pude evitar sentir constantemente uma enorme frustração e uma total impotência ... isto porque, muitos dos males que Soares acreditava estarem já mal na altura, mantêm-se atualmente, quase quatro anos depois, sem grandes esperanças de melhoras... a total inação da União Europeia, a tendência preocupante deste “diretório europeu” em que são os países mais fortes economicamente que ditam o rumo dos países mais frágeis, esquecendo por completo a essência da União Europeia como centro de tomadas de decisão em consenso, a completa falta de regulação dos mercados – que todos atacaram mas que nada fazem para resolver, e (para mim) esta estranha manutenção da ideologia liberal (para não lhe chamar neoliberal) que prepondera e prevalece na Europa e que, para os que já se esqueceram, foi a origem de todo este mal económico e financeiro (com toda a questão da especulação financeira, do subprime americano, do capitalismo selvagem e de casino totalmente desregulado, a chamada “mão invisível” do mercado) - nesta altura em que mais precisámos do Estado Social é quando nos querem fazer acreditar que foi por culpa dele que estamos hoje onde estamos, e ele não foi o responsável, bem longe disso! Mário Soares faz uma análise curisosa - foi para ele (Estado Social) que se viraram quando inúmeros bancos entraram em falência, nacionalizaram os bancos por esse mundo fora, utilizando o dinheiro dos contribuintes para “tapar” o devaneio de uns certos investidores e de uns certos gestores que, aparentemente, sairam de tudo isto impunes (!); no entanto, vêm agora dizer-nos que o Estado deve ser mínimo (?). Pergunto-me, mas será que não aprenderam nada com o mal da origem desta enorme crise!?
Não sou perita no assunto, nem tão pouco posso ir ao fundo da questão sem cair nalguma demagogia, mas a verdade é que este livro me abriu os olhos para o que foi o começo desta crise, que parece esquecida e erradamente associada ao Estado Social e que desde 2008 que é uma crise internacional com implicações terríveis para todos os estados e não apenas desde Junho de 2011 como alguns julgam ou tendem a fazer crer (!).