Por onde começar é a minha dúvida...
Sou daquelas pessoas que,quando o livro que estou a ler não me atraí ou simplesmente não está sempre a chamar por mim, o deixa de lado com um 'quando tiver mais tempo, leio'. Daí que todas as resenhas de livros que gosto sejam abonatórias para os mesmos e daí que pareça que devoro tudo o que seja livro. Ora, isso não se encontra muito longe da verdade. Contudo, posso dizer que sou bastante selectiva nos livros que leio. E sou bastante rigorosa na procura de histórias que me agradem. E depois, tenho a sorte de me encantar pelas histórias certas nos tempos certos. Por isso, não estranhem se eu pareço sempre demasiado favorável nas resenhas que escrevo aqui.
Hoje vou falar sobre o último livro que li e que acabei ontem. Não fiz imediatamente esta resenha porque fiquei a pairar um pouco nos contornos finais da história que, por acaso, é maravilhosa. Atrever-me-ia mesmo a dizer M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A!!!
Mas o mais engraçado é que comprei o livro muito acaso. Ofereceram-me um livro que (confesso) não gostei e quando o fui trocar à Fnac, deram-me um vale. Bibliólica como sou, corri a escolher outro. Primeiro pensei em algumas obras de Charles Dickens, em inglês, que tinham em formato bolso (entre as quais Little Dorrit que anseio por ter mas... preferia a inexistente versão portuguesa). E já tinha três desses livros na mão, quando, por curiosidade, vou espreitar os restantes expositores. Ora, isso é um erra crasso para alguém como eu que fica sempre a pensar 'Tenho de fazer uma lista para não me esquecer deste e daquele título'. Há uma passagem neste livro que vou falar que me define completamente: "...de tal maneira que havia livros enfiados em todos os espaços. Tudo aquilo produziu em mim o mesmo efeito que a visão de uma loja de brinquedos produziria sobre uma criança de seis anos."
Quando peguei n'O segredo de Sophia de Susanna Kearsley, foi por mero acaso pois até a capa achei desinteressante (apesar da imagem bonita). Mas depois li a contracapa e gostei da introdução ao livro. E caí na asneira de o desfolhar por entre os dedos. Começo a acreditar que há algo que nos puxa definitivamente para uma história. Resumindo, pousei os outros três títulos do Dickens, peguei n'O segredo de Sophia de Susanna Kearsley e toca a rumar para a caixa como quem não quer a coisa. Foi só terminar os últimos capítulos do livro que andava a ler então e peguei imediatamente neste que devorei em pouco mais de meia dúzia de dias (tem 509 páginas).
Confesso que a princípio me senti ligeiramente defraudada comigo mesma. Mas isso foi apenas nos primeiros capítulos. Depois a história adensa-se de uma forma interessante e chamativa e as personagens são de tal forma envolventes que é impossível parar de ler. Na história temos presentes todos os pontos de intersecção entre um mundo criado pela heroína, que é uma escritora de romances históricos, e o seu mundo real. E à medida que ela vai escrevendo a sua história vai-se apercebendo que os factos que escreve foram realmente reais e que há entre ela e a sua heroína muita coisa em comum; como se Sophia, a personagem do seu livro, a guiasse pelos factos de uma vida que fora real, intensa, sofrida e memorável.
Acho que não consigo expressar realmente o quão interessante é esta história. No fundo, temos duas histórias pelo preço de uma. E, apesar de ambas se colmatarem uma à outra, cada uma é interessante à sua maneira, acabando por se fundirem num final lindo, imprevísivel e que, a mim, me fez sorrir e desejar não estar no final do livro. A relação, principalmente de Sophia e John Moray, é triste mas intensa, maravilhosa e com contornos que nos fazem rir, suspirar, chorar e tornar a rir e a suspirar. Já a de Carrie com Graham é traquila mas simultaneamente engraçada e bonita. E Carrie, que vive perigosamente entre o presente e o passado, conta com este último para a salvar; só que para isso tem de revelar os segredos que o tempo guardou consigo.
É difícil qualificar uma história assim, muito menos tentar atiçar a curiosidade de outros. Eu quando li a contracapa do livro, gostei mas nunca achei que fosse tão bom. Por isso, deixo aquilo que me atraíu, mas sublinho que devem esperar muito, mas muito mais do que aquilo que vos deixo. E nunca esquecer que realmente 'Há emoções que o tempo não destrói' e que o segredo de Sophia demorou três séculos a ser revelado. Qual era? Só lendo. Eu não vou revelar.
'Carrie McClelland é uma escritora de sucesso a braços com o pior inimigo de qualquer artista: um bloqueio criativo. Em busca de inspiração, ela decide mudar de cenário e visitar a Escócia, onde se apaixona pelas belas paisagens e pelo castelo de Slains, um lugar em ruínas que lhe transmite uma inexplicável sensação de pertença e bem-estar. Tudo parece atraí-la para aquele lugar, até mesmo o seu coração, que vacila sempre que encontraGraham Keith, um homem que acaba de conhecer mas que lhe é, também, estranhamente familiar.
Com o castelo como cenário e uma das suas antepassadas - Sophia - como heroína, Carrie começa o seu novo romance. E rapidamente dá por si a escrever com uma rapidez invulgar e com um imaginário tão intrigante que a leva a perguntar-se se estará a lidar apenas com a sua imaginação. Será a sua Sophia tão ficcional como ela pensa?
À medida que a sua escrita ganha vida própria, as memórias de Sophia transportam Carrie para as intrigas do século XVIII e para uma incrível história de amor perdida no tempo. Depois de três séculos de esquecimento, o segredo de Sophia tem de ser revelado'.
E... há mesmo emoções que o tempo não destrói!