Qual Catherine Morland, embarquei nesta aventura e li um dos primeiros romances góticos da história da literatura.
Li esta obra apenas e só por causa de Abadia de Northanger de Jane Austen.
Adorei a obra do principio ao fim, fiquei presa e agarrada às páginas do livro como uma lunática, quem me visse durante a viagem de autocarro para casa ao longo desta última semana, julgar-me-ia demente tal era a minha abstração da realidade que quase me fez esquecer de mandar parar o autocarro para ir para casa! Ainda um pouco de ressaca de tamanha história, vou tentar ser o mais lúcida possível.
Emilie, é a nossa personagem principal e digna da nossa admiração. Vive com os pais numa linda e pitoresca região de França, é a única filha viva do casal, cujo amor é incondicional e recíproco. Tem uma infância feliz e longe da cidade e de todas as suas tentações. Perde a mãe, vítima de uma doença súbita, e o pai decide fazer com ela uma viagem pelo sul de França e por Itália. Nessa viagem conhecem Valancourt, um jovem que viaja na solidão, dono de um caráter integro, puro e culto. Valancourt acaba por se juntar a eles nessa viagem e serve de grande ajuda pois Saint-Aubert (pai de Emilie) adoece gravemente no decorrer da jornada. Já não está com eles quando Saint-Aubert morre, numa cabana longe da sua casa, perto de um castelo que muitos dizem assombrado e que pertenceu à Marquesa de Villeroi, nome que suscita grande emoção de Saint Aubert. No leito de morte pede a Emilie que cumpra um último desejo, o de destruir umas cartas escondidas num soalho da sua casa no Valee e pede-lhe que nunca as leia. No testamento, deixa Emilie, ainda menor, a cargo da sua irmã Chéron - uma mulher fútil e sem grande sensibilidade.
Emilie, órfã de pai e mãe, parte para junto da tia. É por essa altura que Valancourt declara o seu amor por Emilie, totalmente correspondido, mas embora cheguem a ficar noivos, tudo cai por terra quando Chéron casa com Montoni, um italiano que se revelará um bandido da pior espécie. É ele que as leva para Itália e prepara um casamento forçado entre Emilie e um Conde italiano de grande fortuna. Tal casamento nunca se chega a realizar pois partem de rompante para um castelo, propriedade de Montoni - o Castelo de Udolfo. Aí, Emilie viverá os piores medos e terrores - desde quadros cobertos com um véu negro que escondem segredos impensáveis, a estranhos barulhos e gemidos durante a noite, corredores frios onde criadas julgam ver espíritos, estranhas melodias pela meia-noite, uma estranha porta que só fecha por fora no quarto destinado a Émilie longe de todos os outros, assaltos ao castelo durante a noite com severas batalhas de inimigos, passagens secretas, ... enfim, um terror!
Não posso contar mais nada, até porque o que me deu mais gozo ao ler a obra, foi não ter nenhuma ideia do que me esperava à partida, só uns pequenos lamirés dados por Jane Austen através de Catherine Morland. Aliás, este livro mostra até que ponto Cathy se encontrava influenciada por ele aquando da estadia em Northanger Abbey onde tenta a todo o custo chegar ao quarto da falecida Mrs. Tilney. Na obra de Ann Radcliffe, existe um mistério semelhante, respeitante à Marquesa de Villeroi que morreu vitima da tirania do marido e muita coisa estranha acontece no quarto onde morreu, que esteve fechado por largos anos, escondido da vista de todos.
Aconselho qualquer pessoa a ler este livro, basta gostar de mistério e não ter pesadelos à noite por causa de relatos sobrenaturais que são o pão nosso de cada dia neste livro! Mas para quem leu Abadia de Northanger é uma enorme mais valia, pois grande parte das atitudes de Cathy são calaramente compreensíveis depois de ler Os Mistérios de Udolfo.